“Eu não sou americano, sou suíço. Não tenho nada com isso. Rapazes, vocês certamente cometeram um engano”.

De acordo com Alfredo Sirkis, autor do livro Os Carbonários e um dos sequestradores do embaixador, essa foi a reclamação que ouviu de Giovanni Bucher a caminho do cativeiro.

Sequestrado no Rio de Janeiro no dia 7 de dezembro de 1970 e solto 40 dias depois em troca da liberação de 70 presos políticos, Giovanni Bucher foi embaixador suíço no Brasil de 1966 a 1970. Notório, esse sequestro foi retratado na minissérie de Gilberto Braga, “Anos Rebeldes”, na TV Globo.

O carro de Bucher foi fechado na Zona Sul do Rio de Janeiro pelos sequestradores da organização clandestina VPR (Vanguarda Popular Revolucionária). O cerco policial começou cinco minutos depois, mas os detalhes só foram conhecidos dez anos mais tarde, no livro de Sirkis.

O embaixador foi liberado no dia 16 de janeiro, depois de 40 dias de muitas partidas de baralho — segundo Sirkis, ele formava uma dupla imbatível com o guerrilheiro Carlos Lamarca – dos cigarros que fumava sem parar e de conversas com seus raptores.

Adeus ao “tio”

Tinha 19 anos e era guerrilheiro. Único do grupo a falar fluentemente inglês e francês, fui escalado para a equipe de guarda do “aparelho” onde o embaixador Giovanni Enrico Bucher permaneceu 40 dias de um sufocante verão carioca. O “tio” era bonachão, prosador, dotado de um fino, e por vezes, ferino senso de humor. Foi de alguma maneira cativando a todos, mesmo os mais durões e stalinistas.

(trecho do texto de Sirkis sobre o sequestro)